
Uma viagem pelas madeiras que moldaram a alma do som elétrico
Quando falamos sobre timbre, não estamos só discutindo sobre captadores, válvulas e pedais.
A madeira — muitas vezes esquecida por iniciantes — é um dos elementos mais importantes para definir o caráter sonoro de um instrumento.
E duas madeiras estão no centro desse debate há décadas: o mogno e o ash. Ambas lendárias, cada uma carrega uma personalidade própria.
Vamos explorar não só as diferenças acústicas, mas também os instrumentos, os artistas e as marcas que eternizaram essas madeiras no coração da música.
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🌲 MOGNO: O peso nobre da tradição

🪵 Origem e história
O mogno usado tradicionalmente em instrumentos vem da América Central e América do Sul (como o Honduras Mahogany) e também da África Ocidental, onde é conhecido como Khaya.
É uma madeira nobre, densa, e com grãos apertados, o que a torna altamente ressonante.
Durante o século XIX, o mogno era muito usado em móveis de luxo e embarcações.
Já no século XX, passou a ser estrela na construção de guitarras e violões devido ao seu excelente comportamento acústico.
Na década de 50, a Gibson adotou o mogno como padrão para seus modelos icônicos.
🎸 Presença lendária
- Gibson Les Paul (1952 em diante) – Corpo em mogno + tampo em maple. Essa combinação virou o padrão-ouro do rock.
- Gibson SG – Criada para ser uma Les Paul mais leve e acessível, manteve o corpo de mogno.
- PRS Guitars – Usa mogno africano em boa parte de seus modelos, buscando equilíbrio entre calor e clareza.
🔊 Como o mogno “soa”
- Graves: densos, profundos, quase “manteiga derretida”.
- Médios: encorpados, com muita presença.
- Agudos: arredondados, suaves ao toque.
- Sustain: altíssimo — o som permanece, como um eco controlado.
- Resposta: mais lenta, com ataque menos agressivo. Ideal para quem gosta de sentir cada nota.
🧠 Sonoridade:
- Graves: profundos e com bastante corpo.
- Médios: ricos, ideais para solos com emoção.
- Agudos: suaves, sem picos agressivos.
- Sustain: alto – o som “fica” mais tempo.
- Peso: madeira densa, geralmente mais pesada.
🎶 Ideal para:
Rock clássico, blues, jazz, stoner rock, soul, R&B
👤 Músicos marcantes
- Jimmy Page (Led Zeppelin) – Les Paul de mogno: o som de “Whole Lotta Love” é puro peso e alma.
- Gary Moore – A Les Paul de 1959 que ele usava é referência para qualquer solo blues/rock.
- Joe Bonamassa – Um colecionador e defensor do mogno vintage.
- Slash (Guns N’ Roses) – Seu timbre encorpado vem diretamente de sua Les Paul com corpo em mogno.
- Carlos Santana – Usa guitarras PRS com corpo em mogno, som cheio e sustain infinito.
- Derek Trucks – Bluesman que domina a SG como poucos, extraindo calor puro.
🌿 ASH: A madeira das Fender e do som estalado

🪵 Origem e contexto histórico
O ash, ou freixo, é uma madeira originária da América do Norte e Europa.
É resistente, de crescimento rápido e grão aberto.
O tipo mais valorizado na luthieria é o swamp ash, retirado de árvores que crescem em áreas pantanosas do sul dos EUA — por isso o nome.
Nos anos 50, a Fender estava criando a Stratocaster e a Telecaster e precisava de uma madeira abundante, leve, fácil de trabalhar e boa para acabamento translúcido (aquele clássico butterscotch blonde da Tele, por exemplo).
O swamp ash era perfeito.
🎸 Instrumentos marcantes
- Fender Telecaster (1950-1956) – Praticamente todas eram feitas de swamp ash.
- Fender Stratocaster (pré-1957) – As primeiras Strats também usavam ash antes da transição para alder.
- G&L e Music Man – Continuam usando ash em muitos modelos de alto padrão.
🔊 Como o ash “soa”
- Graves: secos, definidos, com pouco “bloom”.
- Médios: mais contidos, o que dá mais espaço para efeitos e outras frequências.
- Agudos: vivos, com muito brilho e ataque.
- Sustain: médio, com resposta rápida.
- Resposta: muito imediata, ótima para estilos rítmicos e percussivos.
👤 Artistas marcantes
- Keith Richards – Suas Telecasters com corpo em ash são armas sonoras da crueza do rock.
- Jeff Beck – Suas Strats brilham em timbres agudos e limpos, cortesia do ash.
- Andy Summers (The Police) – Usa uma Tele de ash modificada, com som cheio de reverbs e delays.
- Jimmy Page (Led Zeppelin) – Usava Telecaster com corpo em ash nas gravações iniciais.
- Jeff Beck – Suas Strats com swamp ash entregam clareza para sua técnica fluida.
- Marcus Miller – Baixista icônico com um Fender Jazz Bass de ash, som estalado e limpo.
📚 Curiosidade:
O swamp ash está sob ameaça nos EUA por causa de um besouro invasor chamado Emerald Ash Borer, que tem devastado florestas inteiras.
Algumas empresas já estão buscando madeiras alternativas ou estocando ash “vintage”.
🧠 Sonoridade:
- Graves: definidos, mas não pesados.
- Médios: ligeiramente recuados, mais “modernos”.
- Agudos: vivos, brilhantes, com muito ataque.
- Sustain: médio, som mais imediato.
- Peso: varia, mas geralmente mais leve que o mogno (no caso do swamp ash).
🎶 Ideal para:
Funk, country, pop, indie, reggae, fusion.
🥊 Mogno vs. Ash: Quem vence?
Não existe melhor ou pior — existe o que soa melhor para você. Enquanto o mogno oferece calor, profundidade e um abraço sonoro, o ash entrega clareza, brilho e resposta rápida.
Se você busca solos cantantes e pesados, vá de mogno. Se quer acordes que soem com nitidez até no último traste, o ash é o caminho.
🔁 Misturas clássicas
Muitas guitarras combinam madeiras para balancear características:
- Les Paul: corpo em mogno + tampo em maple → calor com definição.
- Stratocasters modernas: corpo em ash + braço em maple → brilho total.
🧩 Dica de audição
Quer ouvir a diferença? Pegue fones bons, vá para o Spotify ou YouTube e compare:
- Slash – “Sweet Child O’ Mine” (Les Paul, mogno)
- Jeff Beck – “Cause We’ve Ended as Lovers” (Strat em ash)
- Santana – “Europa” (PRS em mogno)
- Marcus Miller – “Detroit” (Jazz Bass com corpo em ash)
🎤 Conclusão
Se a música é uma conversa, a madeira é o sotaque. Mogno fala com profundidade e calma. Ash fala com clareza e agilidade.
Cada madeira carrega uma alma, uma herança e um timbre único. Escolher entre elas é escolher o tipo de história que você quer contar quando toca.
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